EVOLUÇÃO SELETIVA

Pensei  ter visto uma garça  branca
Passar por minha janela no 6º andar
Mas não, era uma sacola de plástico
Que passou batendo alças no vento
Buscando seu viveiro de lixo seletivo
Para fugir do venenoso chorume do lixão.
(M/2012)

Filosófica Conversão Tibetana

Tentei modificar o mundo
Com a revolução hippie dos costumes
Tentei mudar o meu país
Elegendo um operário presidente
Tentei melhorar o meu Estado
Colocando os trabalhadores no poder
Tentei aperfeiçoar a minha cidade
Sob o comando de líderes do sindicalismo
Tentei otimizar o meu local de trabalho
Gerenciando eu próprios as modificações
E tentei encontrar a explicação no filosofismo
Pra sucessivos fracassos e tantas decepções
Agora, como última tentativa ainda viável
Tento transformar a mim mesmo pelo budismo
Convertido por uma causa ecologicamente sustentável
Que equilibre harmoniosamente o pensar e as emoções
Como a única mudança possível neste mundo do imediatismo.
(E/2008)

Caderno de Reservas Poéticas















I.
Quem acha que uma vida é pouco
não me peça companhia nem apoio
pois eu sigo na minha e não me acanho
achando que pra este mundo de loucos
uma vida só está de bom tamanho.
          II.
          Seca poética...
          nuvens descalças caminham
          nas praias azuis do infinito
          com a mente as espremo feito esponjas
          sedento de gotas de poesia
          mas delas não extraio nem um grito.
                  III.
                  Ela, emergindo de um mergulho no mar
                  com os cabelos escorridos no rosto
                  como duas cachoeiras agrestes...
                            IV.
                            Tudo é fácil na vida
                            Quando a alma não está ferida.

(I/2003)

Poetar I

Palavras, nas minhas mãos
são como ferramentas de mineiro
pás, picaretas e detonadores
pra escarafunchar o filão da alma
Não são como picadeiros circenses
onde se fica fazendo malabarismos
e piruetas espetaculares em trapézios
para exibirmos nossas virtuais habilidades.

(P/1996)

Digo que vivo de sonhos


             












 Digo porque vivo e sonho
 digo do que vivo
 vivo do que sonho
 e vivo do que digo
            Sonho porque vivo e digo
            digo que o sonho é vivo
            vivo e o que digo é sonho
            sonho que vivo o que digo
                       Vivo porque digo e sonho
                       vivo do que é vivo
                       sonho do que é sonho
                       e digo do que é vivo e sonho.

                                             (K-1985)