MULTIDÃO

Multidão, de onde vens disparada?
Que tragédia ocorreu-te além na estrada?
Que mistério neste humano formigueiro
que pisoteia um no outro sem sentir
cheios de crenças, deuses, padroeiros
cheios de vida sem usufruir
Multidão, onde vais neste atropelo?
Que sina a tua vagar com sinuelo?
Que medo é este de se desgarrar?
Que fuga é esta de se assumir?
Cheios de sonhos sem os realizar
cheios de afetos sem os transmitir
Multidão, quem sou eu?
Quem é você, Multidão?
Multidão somos nós
somos sós...
Somos só multidão!

QO/1980

O VÍCIO DE PENSAR

É preciso prestar atenção
Mais no que sem pensar se pensa
Do que no que se fala ou faz
Posto que se pensa o tempo todo
Muito mais do que se faz e fala
Pois, pensando bem, o vago pensar
É um entretenimento pra vida passar
Incólume, sem nela fundo se meditar
Pensar é viciante como a TV e o crack
E têm o mesmo efeito colateral
É preciso acabar com o vício de pensar!

                                                                           O/2012