IMPERMANÊNCIAS















Tudo é impermanente
Mais as horas que o relógio
Mais o gesto que a mão
Mais o eu que a imagem
Mais o corpo que o nome
Mais a vida que a alma
Alma?
Tudo é impermanente
Mais a certeza que a dúvida
Mais o desistir que o querer
Mais a desgraça que a esperança
Mais a fome que a miséria
Mais a guerra que a paz
Paz?
Tudo é impermanente
Mais a segurança que o medo
Mais a paixão que o amor
Mais a compaixão que a indiferença
Mais a água que a terra
Mais o planeta que o Cosmos
Mais o universo que Deus
Deus?
Tudo é impermanente.

                                               E/2008

CICLOS DE (DES)ENCONTROS

De Ruiva Aurora, da paixão ardente
Que rompeu iluminando os meus dias
Energizando de sentido as coisas simples da vida
E alegrando o ser e estar no aqui e agora...

De tábua de salvação, na qual me agarrei
Para emergir do tédio e da  náusea poética
Pretendendo sobreviver à deriva de álibis forjados
Agarrado à realidade excitante do teu corpo...

De bolha da paixão, onde nos ilhamos do mundo
E tememos sair da praia com o nosso amor
Ao vermos tantos afundarem  no mar...e haja mar...

De sereia, em cujo canto me encantei
Com medo que fosses uma baleia enfeitiçada...

De rubra Vênus sobre o meu Marte moreno
Levitando como estrela na mágica vara de condão
Trilhamos o caminho da sábia cura kármica

De urubuservadores, nos momentos mais difíceis
Não viramos a mesa nem devolvemos as chaves
Guiados pelo fresquinho macio do tesão que nos une
Fizemos infindáveis ensaios prazerosos de despedidas

De dramas, da dor presumida de uma gaiola vazia
De crises, de rituais de um amor cego vivendo de orgasmos

Oh!  Luz da Aurora Ruiva que rompeu!
Que dá sentido a tudo o que se viveu, vive e viverá.
De ciclo em ciclo vamos serenando o nosso amor.

                                                                                              I/2005