COTIDIANO II



Acabou-se o dia
A noite está vazia
O cinzeiro está cheio
Apagarei a luz
Despejarei o cinzeiro
Para amanhã tornar
Acender e lotar
Mas por hoje basta
Preciso descansar bastante
Para o cansaço de amanhã
Preciso acreditar que o horizonte
Não é mera ilusão de ótica
E que meus dentes durarão
Enquanto eu precisar deles
Enfim, preciso escovar... a memória
E sem perda de tempo dormir.
G/1973

Pregão Idealista

                                       Já estou em idade de fazer pregação
                                  De o que fazer e o rumo a seguir em frente:
                           A luta de resistência é com reveses e permanente.

                                                                            H/2016

O GRANDE E O PEQUENO SONHO



Confesso que tenho chorado
Toda vez que volto ao canto operário
As Uvas e o Vento” do Neruda
Livro de poemas panfletários
Em que o poeta glorifica com arte
O Partido Comunista, Mao e Stálin
Menos pela beleza das metáforas dos versos
E mais pela grandeza do sonho socialista perverso
Que inspirou uma geração de artistas consagrados
Do arquiteto Niemayer ao escritor Jorge Amado
Na crença que iam resolver as dores do mundo.

Choro por perceber a mesquinhez do meu sonho
E da minha decepção com o Partido dos Trabalhadores
E por eu ser interesseiro, apenas pelo povo brasileiro.
Grandes sonhos universais: decepções colossais!
                               O/2012