Pureza



Enquanto isso...
por cima de meus ombros
minha filha observa o mundo
e de dentro de seus grandes olhos negros
balbucia comentários em meu ouvido surdo.
                                                  K/1994

Lição de Vida


A vida é um pirulito
Que se chupa distraído
Até o esqueleto do palito.
                                    H/2015

RASANTE


Em revoadas na névoa me lanço
Quebro asas na rigidez dos anos
No escuro traço claros de noite morta
como um vaga-lume que substitui a lua
       Na minha janela anjos vêm pousar
       Trocamos experiências e esperanças
       Pedras soltas rolam, como é bom rolar
       Poucos sabem, um anjo foi quem me disse
      Mas sou como os anjos, nuvem cimentada
      Apenas posso voar!...
           No quadro emoldurado pela minha janela
           ela passa levantando pó em seu corcel
           esvoaçando a cabeleira oxigenada
           e sorrindo vaidosa de seus pivôs...
           E eu que assumi todos os compromissos
           ao ver passar a dourada borboleta
           sinto vontade de pular todas as janelas
           e com paixão rolar com ela
           num voo desvairado numa noite de verão.
                               FE/1978

Velho não se enxerga (velho)


A velhice tem miopia pra discernir
Os desejos ridículos dos viáveis
De tudo o que ainda queremos usufruir.
                         H/2015

DAS PROVOCAÇÕES


A reação provocada por uma ação
É impulsiva e mais intensa quando surta
Que a ação que provoca a reação:
É cutucar a onça com vara curta!
                                                      O/2012

INOCÊNCIA LÓGICA PRESUMIDA


Quero deixar provado
Que mesmo a prova ideal
Que pretende provar tudo
Nunca prova nada

Quero deixar provado
Que não há prova
Que prove alguma coisa
Com aprovação geral

Como não há prova
De que há provas
Logo há prova
De que não há provas

Resulto, pois, inocente
Da autoria destes versos
Pois nada prova a presumida
Fonte em mim de sua nascente.

                                                E/2009

Poeteiro


Não é que eu seja um convencido
Mas relendo meu último livro de poemas
Entrei para o rol dos meus poetas preferidos.
                                                                                   I/2005

Freeway


A página está virada
não tens mais nada  o que explicar
podes seguir na tua estrada
e outros adiante atropelar
podes seguir no rumo do nada
que eu saltei fora
e no desvio vou me afastar
podes seguir na tua autoestrada
que nos atalhos
pelo amor vou me salvar.
                                             P/1996

city-tur


                              Mais uma namorada
                              que veio e passou
                             Aquela que me levar
                             no Cisne Branco
                             pelas ilhas da cidade
                             terá todo o meu amor!
                                                                          K/1994

Cotidiano III


O dia some como a noite
Como o sono
Como um grito
Como a fome
O dia passa como o avião
O cão e o ladrão
Como a ilusão
O dia é breve como a guerra
A liberdade e o lazer
Como o prazer
O dia é vazio como a terra
Como a natureza
Como o escritório
Como a vida.
                                        G/1975

Zen Esperança


Continuar achando que o certo é certo
Mesmo que o mundo marche pra direita
Ser o zen Joãozinho do passo certo sem seita.
                                                                            H/2018

SECA NO SUL


SECA NO SUL

                         À Neusa Rocha

Tenho até medo
De olhar pro céu
E ver estrelas:
Vem chuvinha!...
Cai chuvinha!...
Dizia um post
No Facebook.
O/2012

INCOMUNICABILIDADE


Quem pensa que diz o que pensa
Não diz o que pensa que diz
Apenas diz o que diz
Pensando dizer o que pensa.
E/2009

VELHO FILÓSOFO BABÃO


Descobri, sem calma, na própria carne
A prova da imortalidade da alma
E que o espírito cresce, mas não envelhece

De repente eis-me materialmente envelhecido
Meio século de desgastes físicos sofridos
Caracterizam minha figura conforme a idade
Devido às deformações erosivas da temporalidade
Sobre todas as coisas contingentes e finitas

Mas a prova em que especulo e me agito
Que me dá consciência de que sou espírito
São as pernas em minissaias e os seios imponentes
São as bundas e rostos das bem-dotadas adolescentes
Aflito percebo que por dentro sou o mesmo de sempre
E que o tempo não erodiu a minha atração pela beleza
Apenas me deu esperteza para compreender a situação
Que, no fundo, a atemporalidade do aflito espírito na mística
Transformou-me em mais um abominável velho babão
 Apenas menos patético, pois com uma filosófica explicação metafísica.

                                                                                              I/2005

FÁBRICA$ DE MERDA LTDA.

Ninguém caga dinheiro quente
E mesmo que a gente cagasse
Nunca se cagaria o suficiente.
                                                             H/2018

BODAS DE PRATA

Foi com uma Superlua Azul sobre o mar nas areias de Capão
Que se festejou sob os festejos dos Navegantes e Iemanjá
Nossas Bodas de Prata Conjugais com amor e pés-no-chão.


                                                                  H/2018

Lendas Cósmicas

A lua está cheia
grávida de erupções solares
e ao dar a luz anseia
gerar estrelas espetaculares
Não há mais garoto que creia
que a lua é cheia de comer estrelas.

P/1996