ARTESÃO DE POEMAS

Desde a mais teen idade pratico
Talvez por vício adquirido ou hábito
Provocado pelo intenso uso continuado
Ou por ter me socorrido em muletas
Pra decifrar as garatujas dos adultos
Talvez por pseudo ideologia militante
De quem quer fazer mas não prosa
Talvez pra povoar a solidão sozinho
Colhendo depoimentos de si próprio
Pra discernir os vultos que a vista
No escuro tanto amedrontam a visão
E assim ser meu (auto)psicanalista
Com integral dedicação ao (im)paciente
                            Desde a mais teen idade pratico
                            Como quem faz prosa em versos
                            Garimpando em vão raros minérios
                            Pra na bateia do poema captar a poesia
                            E desvendar por magia os mistérios
                            Da vida ardendo no cotidiano
                            Ferida de morte pela rima rica
                            E revelar a alegria da beleza escondida
                                                     Desde a mais teen idade pratico
                                                    O artesanato de escrever poemas
                                                    A duras penas.
                                                                                             M/2012

O CÁRCERE PRIVADO DO ENIGMA

Dentro de mim vive o ser primitivo
Descrito no Mito da Caverna por Platão
E cogitado por Descartes como existente por pensar
Que Kant o ilhou no cárcere do pensamento
Sem acesso ao si das coisas ao seu redor além do imaginar
E que a ciência uniformizou  como sujeito-cidadão.
Dentro de mim ainda vive este ser medonho
Mantido em secreto calabouço escuro
Devido a sua presumível feiúra assustadora
E temível monstruosidade devastadora de sonhos
Que Freud o localizou agonizante na mente
Como um náufrago se debatendo no inconsciente
E que Jung percebeu este universal ser primitivo
Como sendo um arquétipo do inconsciente coletivo
Feito a hegeliana fenomenologia do espírito em evolução.

Contudo, dentro de mim, continua enjaulada a fera
Com a qual o máximo de aproximação que consigo
É perscrutar seus humores e inquietações ruidosas
Manifestadas por palpitações ofegantes e guturais suspiros
Nas sensações depressivas de sufoco e vazio no peito
Que de súbito faz sofrido até quando meramente  respiro
Sem se revelar onde e como se abre esta privada prisão.

Meditar, romper com o lacaniano estádio do espelho
Que seqüestrou o meu ser essencial pela minha imagem
Tem sido o meu martelo nietzscheano de quebrar a racionalidade
Este novo ídolo feito do preconceito contra o misticismo dos antigos 
E meu modo de ainda tentar estabelecer um sinistro contato direto interior
Com este ser soterrado nos escombros culturais da pós-modernidade
Enquanto haja vida fluindo entre o corpo que aprisiona, à sua imagem
E a alma prisioneira milenar, que feita enigma não se deixa desvendar:
Dentro de mim penso que vive um eu, mas talvez seja pura imaginação.


                                                                                              E/2008

O CAPITAL


O tempo é a moeda capital
da vida mundana das pessoas
é um tesouro secreto ausente
pois ninguém sabe ao certo
o quanto dispõe no baú aberto
E a arte de viver consiste
em do tempo ser bom gerente
investi-lo com riscos criativos
gerando mercado para os sonhos
sem poupá-lo no especulativo
lado debaixo do colchão, gastar
sem stress, sem tédio e com paixão.

P/1996

POÇO DE LUZ

Acende-se uma luz no escuro do poço
lá no fundo do escuro de um dos becos
onde um poço de medos assombra todos os becos
neste poço de becos de escuros medos do meu peito
A luz será a luz dos sonhados Novos Tempos?
Ou será a luz da vela de mais um aniversário
do Velho Tempo feito de poços e becos escuros?
A luz da luz mais fugaz é luz
e só com luz se ilumina
o escuro do desconhecido
as saídas dos becos
os mecanismos dos limos dos poços
e a libertação dos medos.
Viva a Luz!

                                                                                                           (K/1985)