Dentro de mim vive o ser primitivo
Descrito no Mito da Caverna por Platão
E cogitado por Descartes como existente por pensar
Que Kant o ilhou no cárcere do pensamento
Sem acesso ao si das coisas ao seu redor além do imaginar
E que a ciência uniformizou
como sujeito-cidadão.
Dentro de mim ainda vive este ser medonho
Mantido em secreto calabouço escuro
Devido a sua presumível feiúra assustadora
E temível monstruosidade devastadora de sonhos
Que Freud o localizou agonizante na mente
Como um náufrago se debatendo no inconsciente
E que Jung percebeu este universal ser primitivo
Como sendo um arquétipo do inconsciente coletivo
Feito a hegeliana fenomenologia do espírito em evolução.
Contudo, dentro de mim, continua enjaulada a fera
Com a qual o máximo de aproximação que consigo
É perscrutar seus humores e inquietações ruidosas
Manifestadas por palpitações ofegantes e guturais suspiros
Nas sensações depressivas de sufoco e vazio no peito
Que de súbito faz sofrido até quando meramente respiro
Sem se revelar onde e como se abre esta privada prisão.
Meditar, romper com o lacaniano estádio do espelho
Que seqüestrou o meu ser essencial pela minha imagem
Tem sido o meu martelo nietzscheano de quebrar a
racionalidade
Este novo ídolo feito do preconceito contra o misticismo dos
antigos
E meu modo de ainda tentar estabelecer um sinistro contato
direto interior
Com este ser soterrado nos escombros culturais da
pós-modernidade
Enquanto haja vida fluindo entre o corpo que aprisiona, à
sua imagem
E a alma prisioneira milenar, que feita enigma não se deixa
desvendar:
Dentro de mim penso que vive um eu, mas talvez seja pura
imaginação.
E/2008
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