Posso prosperar, aumentar de volume
frequentar poderosos banquetes
saborear eróticos charutos
e ainda assim serei eu
até morrer de sequestro
com a família negando-se a pagar o resgate
com o meu próprio dinheiro acumulado.
Como posso definhar, murchar de aids
frequentar o submundo dos preconceitos
ansiar milagrosas medicações
e ainda assim serei eu
até morrer de indigência
sem herança suficiente para mobilizar a família
a correr o risco de contágio no velório.
Mas e depois de morrer, deixarei de ser eu?
Em que parte de mim será o meu último refúgio?
Na pele, nos ossos ou nos neurônios?
Pela sensibilidade, deve ser na pele
Pelo pensar, no fim dos
neurônios.
Mas se fóssil, meus ossos serão eu?
K/1993