Das coisas que aprendi nos discos
Quanto rock dando toque, tanto blues
Não estou interessado em nenhuma teoria
Eu sou apenas um rapaz latino-americano
Um tango argentino me vai bem melhor que um blues
Estou muito cansado do peso da minha cabeça
O dedo em V, cabelo ao vento, amor e flor, velho cartaz
Na parede da memória esta lembrança é o quadro que dói
mais
E nas paralelas dos pneus n’água das ruas
Levar a saudade na camisa toda suja de batom
O passado é uma roupa que não nos serve mais
Você não sente nem vê mas eu não posso deixar de dizer
Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais
Desesperadamente eu grito em português
Tenho vinte e cinco anos de sonho e de sangue e de
América do Sul
E eu quero é que esse canto torto feito faca, corte a
carne de vocês
A minha alucinação é suportar o dia-a-dia
Os humilhados do parque com os seus jornais
E a solidão das pessoas dessas capitais
Longe o profeta do terror que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas me interessa mais
A vida realmente é diferente, quer dizer, ao vivo é muito
pior
Enquanto houver espaço, corpo e tempo
e algum modo de dizer não eu canto
Viver a divina comédia humana onde nada é eterno
O fim do termo "saudade"como o charme
brasileiro
Quando você entrou em mim como o Sol num quintal
Ainda sou estudante da vida que eu quero dar
De lágrimas nos olhos de ler o Pessoa e de ver o verde da
cana
Foi por medo de avião aquele toque Beatle
John, eu não esqueço, a felicidade é uma arma quente
Veloso, o sol não é tão bonito pra quem vem do norte e
vai viver na rua
O que é que pode fazer o homem comum neste presente
instante senão sangrar?
O que é que eu posso fazer um simples cantador das coisas
do porão?
Fique você com a mente positiva que eu quero é a voz
ativa (ela é que é uma boa!)
Saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho
Deixem que eu decido a minha vida
No fundo do prato, comida e tristeza
Eu tenho medo e medo está por fora
Eu tenho medo um Rio, um Porto Alegre, um Recife
E a única forma que pode ser norma é nenhuma regra ter
Não quero o que a cabeça pensa eu quero o que a alma
deseja
O meu coração selvagem tem essa pressa de viver
Esse negócio de amor já não se faz sem punhais
Esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão
Não vendi a alma ao diabo... O diabo viu mau negócio
nisso de comprar a minha
Com a mesma dura ternura que aprendi na estrada e em Che
Eu era alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais
Mas veio o tempo negro e a força fez comigo o mal que a força sempre faz
Pra que mentir de fingidor das dores tão reais
Eles venceram e o sinal está fechado pra nós
Eu quero meu corpo bem livre do peso inútil da alma
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro.
+30/04/2017