No inventário de cada fase da vida
(Quantas fases ainda terei que inventariar? )
remexemos no baú de todas as feridas
e, na dor do luto, uma a uma fazemos sangrar
buscando na partilha dos bens a culpa dos males
computando nas perdas nossos desenganos
e as mágoas, cujos danos, por muitos anos vamos chorar.
Na morte litigiosa do amor, o balanço é de falência
como em toda morte, o sentimento é de perda
de investimento afetivo a fundo perdido
de desfalque nas economias de nossas carências
inflacionado com o estigma social do fracasso
e sua queda de poder doativo, orgulho ferido
fragilizado, tem o cansaço, status de desiludido.
Mas também na Bolsa da Vida, nossas ações
após a concordata do período de baixa
passam por um saneamento e sobem de cotação
no pregão da ciranda filosófica das emoções
restituindo lucidez pra auditoria da razão.
A sociedade de um casal, produtivo e sentimental
deixa saldos, além das perdas e danos
crescimento no mútuo conhecimento, respeito, amizade
e o crédito de ter havido no passado alguma felicidade
e, sobretudo, o lucro de ter-se construído
o patrimônio de uma nova vida numa criança
e de ter havido capital afetivo suficiente
para assumir tamanha dívida de longo prazo:
Fiança pro Recomeçar, poupança pro Começar de Novo!
(K/1993)
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